A indústria da construção está mais amiga do ambiente?

by Acorus
10 minutos
A indústria da construção está mais amiga do ambiente?

Foto: iStock

Os impactos do aquecimento global estão a ser mais agressivos a cada ano que passa, as temperaturas atingem recordes, chuvas inesperadas e secas severas, são sinais claros que nos apontam para que temos de mudar de vida.

Governos de todo o mundo estão gradualmente tomando medidas para combater o estado das coisas, com medidas legislativas, fiscais, cabe lhes proporcionar melhores condições para que as empresas tenham uma legislação clara, justiça célere, apoios desburocratizados e eficientes.

O desafio é global e com os consensos periclitantes entre os estados, interesses estratégicos, geopolíticos e procura de vantagem no acesso aos recursos naturais, está lançada a corrida.

Há muitos sinais positivos aparecendo também. Por exemplo, algumas empresas já estão desenvolvendo materiais mais sustentáveis, mais eficientes e com menor libertação de carbono.

A construção e o meio ambiente

A indústria possui cada vez mais, novos, melhores e mais ecológicos materiais, para a maior parte das necessidades.

Já se percebeu que as reformas que se exigem são uma oportunidade para criar novos negócios, mercados e valor. Por exemplo, o mercado da reciclagem atinge todos os sectores e tem cada vez maior cota na produção dos novos produtos, esses e outros mercados não existiam ainda há bem pouco tempo.

Apesar da dificuldade da mudança na produção a indústria já se habituou ao maior contratempo que têm: superar o ciclo de vida dos seus produtos e das matérias primas: alterar, modernizar, desmontar e substituir processos obsoletos por outros mais sustentáveis, já é feito com regularidade e ainda melhor já incorporado no próprio processo de produção. 

Com a estrutura empresarial de hoje o recurso ao outsourcing as empresas podem melhor articular-se e concentrar-se nos aspectos mais essenciais. 

A complexidade do processo de mudança é um dos maiores obstáculos para atingir as metas de sustentabilidade que se pretende.

A parte mais difícil não é a reconversão da máquina industrial embora gigantesca. São compreensivelmente os hábitos de consumo.

Como isso se faz? 

Mantendo o status quo por um lado e avançando gradualmente noutro com convicções mas às apalpadelas.  As empresas cumprem o seu papel ao descobrir mercados e suprir as necessidades que estes têm, é para isso que existem.

Por um lado, os governos tendem a navegar à vista. Percebe-se porque as decisões são difíceis. Entre prejudicar e não fazer nada, e agradar aos seus habitantes...  por outro a dificuldade de consenso global entre os estados, depois as massas que com o seu poder de consumo tomam as opções que entendem,  ou então não tem poder de escolha por contingências geopolíticas ou outras. Quem disse que era fácil? 

Pressão dos Consumidores

As preocupações ambientais estão na mente de todos agora. Devido a isso, os consumidores preferem o uso de recursos mais verdes e estruturas mais ecológicas. 

Sabemos que um hábito pode ser pior que um vício, a prova é que defendemos a utilização de energias limpas, reduzir o consumo de carne bovina, etc, mas não andamos menos de avião passamos a utilizar mais a bicicleta e quanto a trocar um belo bife de vaca nem se fala. 

Se assim se comportam os consumidores não podem esperar que as indústrias não produzam o que é procurado.

A indústria não tem mais opção, é uma obrigação

A maior esperança vai para os jovens que sem os hábitos enraizados dos mais velhos, desejosos de mudanças de acordo com a visão que tem do mundo, evitarem repetir os erros e melhorar o que está bem. 

Só uma revolução cultural e de convicções na utilização de alternativas ecológicas, uma mais justa distribuição mundial da riqueza,  que promova a coabitação e a pacificação das populações, pode alterar o estado das coisas.

O planeta precisa de medidas urgentes para combater o aquecimento global, e a construção civil tem um papel fundamental a desempenhar. 

Evitar a pegada e utilizar sistemas que utilizem melhor a água. o ar e outros recursos. A  hera da abundância para alguns, não era para todos.  Resultou em fecharmos os olhos para alguns princípios entre os quais dependermos de estados governados por democracias unipessoais para termos energia na europa, microchips no resto do mundo, etc. Acreditamos que o bem estar civilizacional, acabaria por desmotivar os regimes duros e promoveria a pacificação.

É uma crença justa e faz sentido, mas onde andavam os estrategas, conselheiros, etc, fabricantes de armamento? Certamente distraídos ….

Produzem o seu próprio material bélico mas os equipamentos que as produzem consomem chips e energia de países governados unipessoalmente.

Temos já energias alternativas mais limpas para operar uma mais rápida transição que aquela que fazemos. Existem projetos para reutilização da água, captação e dessalinização, variadíssimos sistemas  de retenção e tratamento, A perda nas redes públicas de distribuição da água estima-se que seja superior ao consumo. Temos proteínas alimentares sintetizadas já com a textura idêntica a alguns alimentos. 

Os paisagistas, ambientalistas sabem como ordenar as florestas, evitar incêndios dantescos, e obter rentabilidade da mesma como revestir o solo para evitar a erosão, a plantação de árvores e arbustos para segurar o solo promover a infiltração da água, evitar a desertificação, reduzir consumos de água. Mesmo a construção civil já está a ultrapassar a maior dificuldade de sempre, construir edifícios, vias de circulação e de estadia, que possuam boa mobilidade para pessoas e veículos, sem impermeabilizar o solo e  interromper o ciclo natural da água. 

Betões e argamassas betuminosas com altos níveis de permeabilidade produzem pavimentos com excelente mobilidade que permitem a infiltração da água no solo, reduzir o escoamento superficial evitando enchente, promovendo o arejamento da superfície e minorando o efeito “ilha de calor”, são exemplos de como a construção e o ambiente estão interligados para bem do progresso e do futuro.

Construção na orla costeira

Orla marítima Santa Cruz. Foto: Acorus 

Avaliação da sustentabilidade na construção

A certificação LEED estabelece um sistema de pontos baseado em:

  • Localização e transporte: Não construir em locais ambientalmente sensíveis e acessibilidade a transportes públicos.
  • Lotes sustentáveis: Proteger e manter o habitat natural, reduzir a poluição e o uso de recursos naturais e facilitar a interação com a natureza.
  • Uso eficiente da água: Minimizar o uso de água durante a construção e fornecer mecanismos para reduzir a pegada hídrica do edifício.
  • Energia e atmosfera: Reduzir o consumo de energia, usar energia renovável e aumentar a eficiência energética para reduzir a poluição.
  • Materiais e recursos: Sistemas de reciclagem, uso de materiais sustentáveis ​​economia de recursos na construção.
  • Qualidade ambiental interior: Qualidade do espaço interior para seus ocupantes, pureza do ar, controle térmico e poluição sonora.
  • Inovação: Estratégias inovadoras de sustentabilidade durante a sua construção.
  • Prioridades regionais: Alcançar melhorias para o local onde está localizado em termos de meio ambiente, equidade social e saúde pública.

Resumindo, uma indústria de construção mais verde e amiga do ambiente não é mais uma opção mas uma obrigação para um futuro sustentável do nosso planeta.